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Reinaldo Martinazzo

‘Ghosting’ Organizacional: Quando a Ausência Está de Corpo Presente.

Vivemos um tempo curioso nas relações humanas — tanto pessoais quanto profissionais.
O ghosting, termo popularizado nas redes para descrever o desaparecimento repentino de alguém sem explicações, encontrou abrigo também dentro das organizações. Só que, no ambiente corporativo, ele assume uma forma mais sofisticada e silenciosa: o ghosting organizacional.

Aqui, ninguém literalmente “some”. O colaborador está ali, presente nas reuniões, responde e-mails, cumpre prazos. O líder também está visível, fala em metas, cobra resultados, participa de eventos.
Mas, na essência, ambos desapareceram — emocional, intelectual e moralmente.
São presenças que não habitam o próprio papel.

Os fantasmas do engajamento

O ghosting organizacional é o retrato de uma era em que o pertencimento se esvaiu.
Há profissionais que continuam na empresa, mas não mais com a empresa.
Marcam ponto, mas não deixam marca. Executam tarefas, mas sem energia criativa.
Esperam o final do expediente como quem espera o final de um castigo.

Do outro lado, líderes que se vangloriam de “não microgerenciar”, mas, na verdade, apenas se ausentaram.
Delegam sem orientar, cobram sem inspirar, comunicam sem escutar.
São gestores que confundem autonomia com abandono, liberdade com descaso.
Criam ambientes onde o silêncio é mais ensurdecedor que o ruído.

O colaborador-fantasma e o líder-fantasma

O colaborador-fantasma cumpre o mínimo, evita conflitos, finge concordar.
Desenvolve uma habilidade refinada de parecer produtivo enquanto, por dentro, já fez as malas.
Não se rebela, não propõe, não se envolve — e justamente por isso passa despercebido.

O líder-fantasma, por sua vez, aprendeu a sobreviver politicamente.
Evita decisões difíceis, camufla-se atrás de e-mails e relatórios, delega as conversas desconfortáveis.
Seu maior talento é não ser percebido, e seu maior erro é acreditar que isso o protege.

Ambos habitam o mesmo espaço físico, mas estão desconectados do propósito.
É o colapso silencioso do engajamento.

Quando a cultura se torna cúmplice

O ghosting organizacional não nasce do nada.
Ele floresce em culturas que valorizam o discurso mais do que a prática; o controle mais do que a confiança; o resultado imediato mais do que o significado.
Ambientes assim não afastam pessoas por demissão — afastam por exaustão.
São empresas que falam de propósito em murais, mas esquecem dele nas reuniões.

E há ainda o ghosting institucional: organizações que desaparecem quando o colaborador mais precisa.
Falam em “cuidar das pessoas”, mas silenciam diante de crises emocionais, sobrecarga e desmotivação.
São empresas que terceirizam o cuidado humano para o RH e o propósito para o marketing.

Como exorcizar os fantasmas

Superar o ghosting organizacional exige mais do que slogans de engajamento.
É preciso restaurar a presença genuína — aquela que se manifesta no olhar, na escuta, na colaboração e na coerência.
Líderes precisam voltar a liderar com propósito, não apenas com metas.
E colaboradores precisam resgatar o sentido do que fazem, não apenas o contrato que assinam.

Empresas saudáveis não se constroem com corpos presentes e mentes ausentes.
Elas se constroem quando cada pessoa entende que pertencer é mais que estar —
é importar.

Talvez o maior risco do ghosting organizacional seja o de parecer normal.
Porque quando a ausência se torna rotina, o espírito da empresa se transforma num prédio habitado por fantasmas — todos ali, de corpo presente, mas de alma distante.

Reinaldo Martinazzo

Quantas empresas que você conhece resistiriam a 500 anos de sucessões sem perder o rumo? A maioria mal sobrevive à troca de uma geração. A Beretta, fundada em 1526, atravessou 15 gerações e segue crescendo — porque entendeu algo que muitos ainda ignoram: herança não é direito, é responsabilidade. E o mérito, quando bem cultivado, é o verdadeiro testamento corporativo.
Há líderes que sufocam pela presença excessiva — e outros que ferem pela ausência disfarçada de liberdade. No meio desse paradoxo silencioso nasce o ghosting organizacional: o fenômeno de quem está fisicamente presente, mas emocionalmente ausente. Proponho uma reflexão sobre o que acontece quando o silêncio do líder faz mais barulho que suas palavras.
Num tempo em que algoritmos aprendem mais rápido que pessoas, a verdadeira vantagem humana não está na velocidade, mas na percepção. A Inteligência Situacional é o contraponto à Inteligência Artificial: enquanto as máquinas processam dados, nós processamos sentidos. E é nessa sutileza — entre o cálculo e o discernimento — que se revela o que nenhuma tecnologia consegue reproduzir: a sabedoria de compreender o contexto antes de agir.
Em tempos de excesso de informação e escassez de sensibilidade, a verdadeira inteligência não está apenas em pensar bem, mas em perceber melhor. A inteligência situacional é a capacidade de ler o ambiente, captar sutilezas e agir com lucidez diante do que se apresenta. É o ponto em que razão e emoção se encontram — e onde a mentoria revela seu maior poder: preparar mentes e corações para compreender o contexto antes de transformá-lo.