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Reinaldo Martinazzo

Sem Pergunta, Sem Solução: A Arte Perdida de Saber Diagnosticar.

Vivemos tempos em que as respostas estão a um clique de distância. Inteligências artificiais, mecanismos de busca, fóruns, redes sociais… Nunca foi tão fácil obter respostas — e, paradoxalmente, nunca foi tão comum encontrar soluções superficiais, ineficazes ou equivocadas.

Por quê?
Porque respostas, por si só, não resolvem problemas. O que resolve é a pergunta certa.

No afã de agir rapidamente, muitos profissionais atropelam a etapa mais nobre e estratégica de qualquer processo de solução: o diagnóstico. Sem diagnóstico, não há caminho. E sem caminho, qualquer direção serve — até o precipício.

O Mal da Pressa e o Custo da Superficialidade

A era digital nos trouxe velocidade, mas também instaurou um novo tipo de ansiedade: a ansiedade da resposta imediata. Isso tem levado profissionais e empresas a um comportamento quase automático, no qual se prioriza agir antes mesmo de entender o problema.

É como se um médico prescrevesse o remédio sem sequer ouvir o paciente. Parece absurdo? Pois é exatamente isso que acontece quando alguém busca uma solução antes de compreender a questão.

Diagnosticar é Saber Perguntar

O problema de fundo é que poucos foram ensinados a perguntar. Na escola, na universidade e, muitas vezes, nas empresas, somos treinados para responder. Poucos desenvolvem a habilidade de formular perguntas poderosas, perguntas que desnudam o problema, que revelam suas causas, seus contornos, suas dimensões.

E aqui entra um instrumento que conheci no início dos anos 1980 e que, até hoje, considero uma das ferramentas mais inteligentes e subestimadas no universo da criatividade, da estratégia e da inovação: a Régua Heurística.

Régua Heurística: Uma Ferramenta para Pensar Antes de Resolver

Apesar do nome, a Régua Heurística não é uma régua no sentido físico. Trata-se de um modelo mental estruturado, que combina blocos de perguntas com verbos de ação e campos de análise. Ela funciona como um mapa de investigação, conduzindo o raciocínio de forma lógica, criativa e abrangente.

Basicamente, ela parte de dois grandes blocos:

Bloco das Perguntas Poderosas:

  • Por quê?
  • O quê?
  • Como?
  • Quem?
  • Onde?
  • Quando?
  • Quanto custa?
  • Quanto tempo leva?
  • Quanto vai render?

São perguntas que ajudam a definir, compreender, contextualizar e dimensionar o problema.

Bloco dos Verbos de Ação (Gatilhos Criativos):

  • Reduzir
  • Eliminar
  • Combinar
  • Substituir
  • Ampliar
  • Reorganizar
  • Inverter
  • Padronizar
  • Diferenciar

Esses verbos ajudam a pensar nas possibilidades de transformação, ajustando processos, produtos, modelos de negócio, comunicação, marketing, operações, etc.

Bloco dos Campos de Análise:

  • Produto
  • Preço
  • Comunicação
  • Processos
  • Distribuição
  • Pessoas
  • Experiência do Cliente
  • Modelos de Relacionamento
  • Estratégia

Essa combinação gera dezenas, talvez centenas de perguntas inteligentes, que conduzem a uma compreensão muito mais profunda do problema e, consequentemente, a soluções verdadeiramente eficazes.

Sem Diagnóstico, Tudo Vira Paliativo

Empresas que erram na formulação do problema acabam tratando sintomas, não causas. E os exemplos são inúmeros:

  • A Kodak, que acreditava que seu problema era proteger o mercado do filme fotográfico, quando, na verdade, o desafio era entender como as pessoas registram e compartilham memórias.
  • A Nokia, que pensou que seu problema era competir no hardware, quando o jogo já havia migrado para os ecossistemas digitais.
  • A Blockbuster, que achou que seu problema era melhorar a experiência na loja física, sem perceber que o consumidor não queria mais a loja — queria acesso instantâneo, em casa.

Soluções brilhantes aplicadas ao problema errado. Resultado? Fracasso.

O Poder de uma Boa Pergunta

Saber perguntar não é dom. É competência. E, como toda competência, pode — e deve — ser desenvolvida.

  • Perguntas abertas geram expansão de possibilidades.
  • Perguntas específicas geram clareza e foco.
  • Perguntas provocativas rompem paradigmas e desafiam o senso comum.
  • Perguntas estruturadas, como as da régua heurística, conduzem do caos ao entendimento, do entendimento à solução.

Antes de Resolver, Pergunte. Pergunte Muito. Pergunte Melhor.

O mundo não precisa de mais respostas prontas. O mundo precisa de perguntas melhores. E quem dominar essa arte terá sempre uma vantagem competitiva enorme — como líder, como profissional, como consultor, como empreendedor.

“Sem pergunta, não há solução. Sem diagnóstico, não há transformação.”

Essa é uma arte que nunca deveria ter sido esquecida.
Talvez esteja na hora de resgatá-la.

Reinaldo Martinazzo

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