A história conta que Michelangelo, ao concluir sua magnífica escultura de Moisés, ficou tão impressionado com a perfeição da obra que, tomado por um momento de alucinação, golpeou-a com um martelo enquanto gritava: “Parla! Perché non parli?” (Fala! Por que não falas?). A escultura, de tão impecável, parecia quase viva, faltando apenas o dom da fala. Esse episódio certamente deu origem à expressão “só falta falar,” e inspira reflexões até hoje.
Agora, imagine: sua empresa já chegou a esse nível? Ela está “falando” com você? Ou permanece como uma obra inacabada, silenciosa, e que não revela o que você precisa saber para tomar decisões estratégicas?
A Importância de Ouvir Sua Organização
A comunicação interna de uma empresa não acontece apenas entre pessoas; ela se manifesta também pelos dados, sistemas e processos que sustentam a organização. Durante minha experiência como analista de Organização e Métodos, aprendi que a verdadeira riqueza de informações de uma empresa reside, muitas vezes, em sua contabilidade. Quando estruturada a partir de um plano de contas bem concebido, a contabilidade gera dados valiosos que podem se transformar em informações confiáveis e estratégicas.
Este aprendizado foi essencial ao ingressar no marketing. Assim como a escultura de Michelangelo precisava de vida, as empresas precisam de um bom Sistema de Informações de Marketing (SIM). Um SIM confiável permite que os dados internos “falem” com clareza, orientando a tomada de decisões e complementando as pesquisas externas.
Sem uma base sólida de conhecimento interno, qualquer projeto de pesquisa se torna falho, pois é impossível definir objetivos claros e ações eficazes sem entender o que já se sabe e o que falta saber.
Cultura da Informação: O Hábito que Transforma
Ter um sistema funcional, como um CRM (Customer Relationship Management), é um passo importante, mas não suficiente. A verdadeira diferença está em cultivar uma cultura da informação. Esse hábito organizacional implica analisar dados continuamente, convertê-los em insights e utilizá-los para provocar mudanças e inovações.
Peter Senge, em sua obra sobre organizações que aprendem, destaca que a informação deve causar um “desconforto criativo”. Esse incômodo é saudável: ele motiva equipes a questionarem o status quo, a buscarem soluções inéditas e a inovarem constantemente.
Imagine uma empresa onde essa provocação é constante, onde o desconforto torna-se um impulso natural para a inovação. Isso cria uma organização inquieta, inconformada com o ordinário, capaz de se adaptar rapidamente ao mercado e manter sua relevância.
Marteladas Bem-Vindas
A metáfora das “marteladas” de Michelangelo é uma poderosa analogia para o ambiente empresarial. Assim como o artista buscava a perfeição em sua obra, as empresas precisam de estímulos que as tirem da letargia. Inserir “tubarões no aquário” — desafios que forcem a equipe a se manter alerta e criativa — pode ser a chave para evitar o conformismo e fomentar o crescimento.
Esses estímulos não precisam ser grandes revoluções; podem ser pequenas mudanças diárias, como a análise contínua de métricas ou o questionamento de práticas estabelecidas. O importante é manter a busca por excelência, assim como Michelangelo nunca se conformava com menos do que o sublime.
Sua Empresa Está Pronta para Falar?
Se a resposta for “não,” é hora de agir. Investir em um Sistema de Informações confiável, cultivar uma cultura da informação e estimular sua equipe com “marteladas” estratégicas pode transformar sua organização. O objetivo não é apenas ouvir sua empresa, mas fazer com que ela “fale” claramente, conduzindo decisões estratégicas e abrindo caminhos para a inovação.
Lembre-se: a perfeição não é um ponto de chegada, mas um processo contínuo. Tal como Michelangelo, pergunte-se sempre: o que está faltando para minha obra — ou minha organização — ganhar vida?
Reinaldo Martinazzo