A ideia de que o planejamento estratégico tradicional não é mais viável no cenário atual não é nova, mas ainda assim muitos gestores se utilizam de ferramentas antigas como escadas. Henry Mintzberg já alertou sobre os perigos de uma visão inflexível, defendendo que o planejamento deveria ser mais adaptativo e menos dependente de longos processos analíticos. O mundo mudou e, com ele, a maneira de pensar e executar estratégias também.
Da Visão Clássica à Prática Moderna
Nos primórdios de gestão, nomes como Fayol e Taylor revolucionaram o mundo corporativo com seus métodos de planejamento e organização de tarefas e processos. No entanto, o modelo prescritivo desses pensadores, que funcionava bem numa época de relativa estabilidade, agora apresenta sérias limitações. Hoje, especialmente no setor de serviços, os mercados mudam rapidamente, exigindo decisões ágeis
Mintzberg destacou essa realidade ao diferenciar entre a “estratégia deliberada” – que segue um plano rígido – e a “estratégia emergente”, que se adapta à medida que novos desafios e oportunidades surgem*. Ele sugere que, no mundo moderno, esperar que todos os passos sejam mapeados com antecedência é ilusório. Precisamos de ferramentas que nos permitam flexibilidade e rapidez na tomada de decisões.
Aqui entra a contribuição de Alan Kay, cujas ideias sobre inovação e flexibilidade podem ser aplicadas ao planejamento estratégico. Kay acreditava que “a melhor forma de prever o futuro é inventá-lo”. Aplicado ao contexto organizacional, isso significa que, em vez de nos ancorarmos a planejamentos rígidos e prescritivos, devemos ter a capacidade de moldar nossas estratégias conforme o futuro.
O Case do Serviço Moderno
Empresas de serviços, mais do que nunca, enfrentam cenários dinâmicos e imprevisíveis. Imagine uma agência de marketing que, ao invés de seguir um planejamento anual fixo, adote “sprints” trimestrais para revisar e ajustar suas estratégias de acordo com as mudanças no mercado e nas necessidades dos clientes. Esse exemplo ilustra perfeitamente o conceito de estratégia emergente: é uma abordagem ágil, que envolve a incerteza e responde rapidamente a ela.
O setor de serviços, em particular, exige uma abordagem muito mais flexível. Os clientes bloqueiam respostas e o mercado competitivo não perdoa a demora em se ajustar. As empresas que ainda seguem modelos de planejamento tradicionais muitas vezes perdem terreno para concorrentes que adotam métodos ágeis e responsivos.
Superando a Inércia Organizacional
A resistência ao planejamento ágil muitas vezes nasce do medo do desconhecido. Planos detalhados trazem uma falsa sensação de segurança, mas no ambiente atual, essa segurança pode se transformar em inércia. Estratégias se tornam uma camisa de força, impedindo as organizações de responderem às mudanças do mercado
Ao invés de seguir um caminho linear e previsível, as empresas devem ser mais semelhantes aos navegadores experientes, ajustando suas velas ao sabor dos ventos e tempestades que surgem. As metodologias ágeis, amplamente utilizadas em setores como a tecnologia e serviços, podem ser o norte para empresas de todos os segmentos que buscam sobreviver e prosperar em um ambiente em constante mudança.
A Nova Realidade do Planejamento
Se o planejamento estratégico de outrora se assemelhava a um manual de instruções, o planejamento moderno se parece mais com um roteiro flexível, que altera as incertezas e se adapta ao longo da jornada. As empresas que confirmam essa mudança, e que adotam metodologias mais ágeis e adaptativas, estão melhor posicionadas para navegar com sucesso pelas incertezas do mercado.
Em suma, é preciso entender que o planejamento estratégico não está morto – ele apenas se transformou. As empresas que permanecem presas a modelos rígidos e engessados certamente se tornarão vulneráveis em um ambiente que exige flexibilidade e inovação constante. É hora de abraçar o movimento ágil e permitir que as estratégias evoluam junto com o mundo ao nosso redor.
Reinaldo Martinazzo
*O ensaio completo que originou este artigo você encontra neste Blog no seguinte endereço: https://vitoriamkt.com.br/blog/ com o título: “De Sun Tzu a Alan Kay, passando por Mintzberg: um Ensaio Sobre a Nova Era do Planejamento Estratégico Ágil”.
Lá eu faço um ensaio detalhado a respeito da evolução do pensamento de Mintzberg que ao escrever “Ascensão e Queda”, de certa forma revisita e até critica as abordagens apresentadas por ele mesmo em “Safari da Estratégia”. Esse movimento reflete uma evolução em seu pensamento e uma adaptação às novas realidades e compreensões sobre o ambiente de negócios.
Vale a pena conferir.