Vivemos tempos de transformação acelerada. A sociedade está mais conectada, mais crítica e mais dividida. Nesse cenário de polarização, a comunicação das marcas deixou de ser apenas informativa ou persuasiva — e passou a ser também um campo minado de posicionamentos e escolhas de valor.
Empresas que não conseguem articular com clareza seus princípios correm o risco de parecerem oportunistas ou incoerentes. Por outro lado, aquelas que se comunicam com alma e coragem conquistam respeito, mesmo entre quem discorda de suas posições.
O que é Comunicação Inspiracional?
É aquela que vai além da promoção de produtos. Que conecta, emociona, provoca reflexão e gera engajamento genuíno. É uma comunicação que nasce do propósito e da coerência — e não da conveniência.
Durante anos, vimos crescer o uso do chamado “politicamente correto” nas campanhas de comunicação de marketing. Embora sua origem esteja no respeito e na inclusão, seu uso superficial ou genérico gerou uma enxurrada de mensagens pasteurizadas, sem verdade nem impacto.
A consequência? Marcas tentando agradar a todos e falhando em inspirar alguém.
Estratégia é a Alma do Posicionamento
Para comunicar com consistência, é essencial ter uma estratégia clara e bem definida. É ela que orienta o tom, os temas e as causas que a marca pode ou não abraçar. Sem esse alicerce, qualquer posicionamento corre o risco de soar reativo ou oportunista — especialmente nas redes sociais, onde o ciclo da opinião pública é veloz e impiedoso.
Mais do que nunca, é necessário acompanhar os movimentos do mercado e da sociedade, não para seguir tendências, mas para tomar decisões conscientes e coerentes com a identidade da marca.
O Caso WOKE: Coragem ou Modismo?
O termo “cultura WOKE” refere-se a uma postura de vigilância social e ativismo, voltada para justiça racial, equidade de gênero, diversidade e inclusão. Algumas marcas a adotaram como causa central; outras, vêm revendo esse alinhamento.
Recentemente, empresas como McDonald’s, Disney e Toyota deram sinais de afastamento dessa agenda, reposicionando-se em direção a valores mais tradicionais. Já a Jaguar parece seguir na direção oposta, buscando se alinhar a um público jovem e progressista.
Esse movimento levanta questões cruciais:
- Como mudar o posicionamento sem trair quem sempre acreditou na marca?
- Como lidar com o possível abandono de consumidores tradicionais?
- É possível conquistar novos públicos sem abrir mão da essência?
No caso da Jaguar, sua imagem clássica e britânica está sendo reinterpretada. Isso pode ser atraente para novos públicos, mas também afasta quem via na marca um símbolo de sofisticação conservadora.
O Perigo de Comunicar por Modismo
Profissionais de marketing muitas vezes se veem pressionados a seguir o que é “trend”. Mas quando a comunicação vira reatividade, perde-se o olhar de longo prazo. E nesse movimento, clientes fiéis — que enxergam na marca um reflexo de seus próprios valores — podem se sentir traídos.
O resultado? Ruído. Confusão. E o pior: perda de relevância.
Dois Cenários Quando a Marca Muda
- Aceitação: quando a mudança é bem comunicada, coerente com a evolução da sociedade e fundamentada em valores reais.
- Rejeição: quando a mudança parece forçada ou desconectada do histórico da marca, o consumidor pode simplesmente procurar outra opção.
O Futuro da Comunicação Inspiracional
Inspirar não é um luxo — é uma necessidade. Num mundo dividido, as marcas que sobreviverão e prosperarão são aquelas que:
- Mantêm autenticidade: posicionando-se com clareza, sem oportunismo;
- Equilibram inclusão com originalidade: respeitando a diversidade sem abrir mão da personalidade; e
- Trabalham valores universais: como empatia, inovação com propósito, sustentabilidade real e histórias humanas.
Em tempos de gritos extremos, marcas com alma fazem a diferença.
Não por dizerem o que todos querem ouvir, mas por dizerem aquilo em que acreditam — com verdade, coragem e consistência.
Porque comunicar com alma é um ato de coragem. E a coragem, na comunicação, nunca sai de moda.