Ainda jovem, aprendi a reconhecer um bom líder. Meu pai, um senhor que não teve a oportunidade de frequentar os bancos escolares, aprendeu com a vida a importância do relacionamento saudável e se tornou um exímio comerciante que liderava sua equipe com maestria. Com seu jeito cativante e pelo exemplo de dedicação ao trabalho, obtinha resultados extraordinários devido ao envolvimento que conseguia com seus comandados. Talvez venha daí a minha paixão pelos negócios, pelos processos organizacionais, pela administração e, principalmente, pelo Marketing, atividade profissional que pratico formalmente desde o início dos anos 1980.
Liderança é a capacidade de influenciar, motivar e habilitar outras pessoas a contribuir para o sucesso da organização de que fazem parte. Um bom administrador é, antes de mais nada, um líder que combina uma série complexa de habilidades, experiências e características pessoais para se adaptar às diferentes circunstâncias.
A literatura identifica vários tipos de liderança, desde o carismático, passando pelo democrático, até chegar ao técnico. Muitos são os estilos, e cada um apresenta suas vantagens e desvantagens, dependendo do ambiente e do momento em que se faz necessário.
Exemplos de Liderança Histórica
Alexandre o Grande, por exemplo, foi um Líder Transformacional. Teve como grande mentor o filósofo Aristóteles. Alexandre se tornou conhecido por sua visão de império universal e por inspirar seus soldados a seguir essa visão. Ele não apenas conquistou territórios, mas também incentivou a fusão de culturas, sem destruir as culturas dos povos conquistados, mas adotando e integrando aspectos dessas culturas em seu império. Numa demonstração de respeito e integração cultural, casou-se com mulheres persas e incentivou seus oficiais a fazer o mesmo, o que ajudou a estabilizar e unificar seu vasto império, criando uma era de sincretismo cultural conhecida como Helenismo.
Júlio César adotava um estilo de liderança autocrático/democrático. César tomava decisões rápidas e centralizadas, especialmente em situações de crise, como durante a guerra civil romana. Sua liderança democrática se fez presente quando buscou apoio do povo através de reformas populares, como a redistribuição de terras aos veteranos. Sua liderança firme e carismática estabilizou Roma e pavimentou o caminho para o Império Romano.
No mundo contemporâneo, Steve Jobs é um exemplo claro de líder transformacional. Cofundador da Apple, Jobs tinha uma visão clara e ambiciosa para a tecnologia e a empresa. Ele inspirou sua equipe a criar produtos inovadores como o iPhone, iPad e MacBook, que não apenas mudaram a indústria de tecnologia, mas também influenciaram profundamente diversas outras indústrias. Jobs cultivou uma cultura de inovação e excelência na Apple, desafiando constantemente seus funcionários a pensar diferente e a não se contentar com mediocridade. Sua abordagem de fusão entre artes e tecnologia resultou em produtos que eram tanto tecnicamente avançados quanto esteticamente atraentes e intuitivos de usar. Sob sua liderança, a Apple transformou-se na empresa mais valiosa do mundo, criando novos mercados e mudando a forma como as pessoas consomem e interagem com a mídia.
Líderes Negativos
A história é pródiga em exemplos de líderes negativos. Os resultados são os piores possíveis, tanto que em seus legados pouco ou nada deixaram além das marcas de perversidades, que são características de mentes doentias.
Nero se notabilizou pela desonestidade. Foi um líder cruel, com comportamento manipulador, e se notabilizou por seu grande desrespeito pela vida humana, supostamente ordenando o grande incêndio de Roma e culpando os cristãos por isso. Sua liderança brutal e cruel levou a um clima de medo e desconfiança, resultando em revolta e provocando a queda de seu governo.
Calígula exerceu uma liderança insensível e desumana, demonstrando insanidade e crueldade extremas. Proclamou-se um deus e exigia adoração, além de cometer atrocidades contra seus próprios cidadãos e senadores. Sua liderança insensível e tirânica gerou instabilidade, medo e ódio, culminando em seu assassinato.
Infelizmente, essas atitudes não ficaram apenas nos registros históricos. Com viés no comportamento, no caráter ou na falta de percepção e habilidade de relacionamento interpessoal, ainda hoje encontramos líderes “incendiando” empresas, cobrando endeusamento e agindo de forma tirânica. Falta-lhes sensibilidade e empatia para perceber que estão andando pelo mais nefasto dos caminhos.
As lições que aprendemos recentemente com o Caso Americanas, ilustra como a liderança negativa pode ter consequências devastadoras para uma organização. Líderes que agem de maneira irresponsável e não transparente podem levar a empresa a uma crise profunda, com impactos duradouros em sua reputação, desempenho financeiro e moral dos funcionários e stakeholders.
O Líder Informal
A liderança está fortemente associada ao perfil psicológico e comportamental do indivíduo que a exerce. Estudos indicam que, embora exista um estilo dominante, os líderes de sucesso frequentemente praticam mais de um tipo de liderança, sugerindo que a liderança pode ser aprendida e desenvolvida ao longo do tempo.
Um tipo de liderança que merece atenção especial é a do líder informal. Normalmente, como o nome sugere, ele não possui autoridade formal, mas exerce uma influência significativa dentro da organização. Esses líderes emergem naturalmente, sem a necessidade de títulos ou cargos elevados, e são frequentemente os verdadeiros motores das dinâmicas de grupo.
Malala Yousafzai é um exemplo notável de líder informal contemporânea. Sua luta pela educação das meninas e pelos direitos humanos a transformou em uma figura globalmente reconhecida, apesar de não possuir uma posição formal de poder.
Malala ganhou a confiança e a admiração de pessoas ao redor do mundo por sua coragem e compromisso com a educação, mesmo após ter sido atacada pelos Talibãs em 2012. A sua autenticidade e resiliência a tornaram uma figura confiável e inspiradora. Como comunicadora eficaz, seus discursos, como o proferido na ONU, ressoam profundamente com audiências globais, conectando-se em níveis pessoais e profissionais.
Ela representa os valores de igualdade, educação e direitos humanos, servindo como um exemplo vivo desses princípios. Sua vida e ações são testemunhos do que defende, e ela atua como uma ponte entre jovens em situações similares e a comunidade internacional, levantando questões cruciais e garantindo que as vozes das meninas sejam ouvidas em níveis mais altos.
Malala fundou o Malala Fund, uma organização sem fins lucrativos que advoga pela educação das meninas em todo o mundo, demonstrando como sua influência informal se traduziu em ação concreta. Em 2014, ela se tornou a pessoa mais jovem a receber o Prêmio Nobel da Paz, um reconhecimento de sua liderança global e impacto positivo.
Características dos Líderes Informais
Os líderes informais possuem algumas características que os tornam incomum, dentre as quais destacamos:
- Possuem credibilidade e ganham facilmente a confiança dos seus colegas através de ações consistentes e confiáveis, pois são percebidos como autênticos e sinceros;
- São excelentes comunicadores e por isso, capazes de transmitir ideias e sentimentos de maneira clara e empática, o que faz com que se conectem em um nível pessoal e profissional;
- São adaptáveis e resilientes, demonstrando capacidade de superar desafios e se ajustar a mudanças, o que funciona como elemento inspirador para os colegas que passam a vê-lo como exemplo a seguir;
- Personificam os valores e princípios da empresa, servindo como exemplos vivos do comportamento esperado;
- Atuam como pontes entre a equipe e a administração, ajudando a disseminar informações de maneira eficaz e garantindo que as preocupações dos funcionários cheguem aos níveis superiores; e
- Frequentemente se tornam mentores para seus colegas, oferecendo orientação e apoio que vão além das responsabilidades formais. Eles elevam o moral e incentivam o desenvolvimento profissional dos outros.
Reconhecer e entender a dinâmica dos líderes informais é crucial para qualquer organização. Eles podem ser tanto uma força para o bem, quanto uma ameaça, dependendo de como utilizam sua influência.
A boa notícia é que é possível fazer a gestão eficaz desses líderes, desde que se observe o seguinte:
- Inclua líderes informais em discussões e decisões importantes. Seu envolvimento pode ajudar a garantir que a equipe como um todo esteja alinhada com os objetivos da organização;
- Ofereça feedback construtivo e oportunidades de desenvolvimento para líderes informais. Isso pode ajudar a canalizar sua influência de maneira positiva e alinhada com os objetivos da empresa; e
- Monitore o impacto dos líderes informais e esteja atento a sinais de influência negativa. Avaliações regulares podem ajudar a identificar problemas antes que eles se tornem graves.
Para concluir, os líderes informais possuem um poder sutil, mas significativo, dentro de qualquer organização. Quando reconhecidos e geridos de forma eficaz, podem ser catalisadores de mudança positiva e apoio inestimável para seus colegas. No entanto, se seu poder for mal utilizado, podem se tornar uma força destrutiva. Portanto, é essencial que as organizações saibam identificar, engajar e desenvolver esses líderes para maximizar seu impacto positivo e minimizar os riscos associados.
Reinaldo Martinazzo