Picture of Reinaldo Martinazzo

Reinaldo Martinazzo

A Transformação da Saúva: A Praga Invisível que Ainda Rói o Brasil.

Cresci ouvindo a frase atribuída a Auguste de Saint-Hilaire, botânico francês que viveu no Brasil entre 1816 e 1822: “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil.”

Na infância, ela surgia em campanhas no rádio, em folhetos coloridos, até em conversas de adultos preocupados com as lavouras. A figura da formiga cortadeira estava por toda parte — sempre voraz, sempre ameaçadora.

Décadas depois, percebo que a tal saúva nunca desapareceu. Apenas se transformou. Trocou as folhas verdes por papéis timbrados. Trocou as trilhas da roça pelos labirintos institucionais. Mas seu apetite pelo que poderia florescer… esse continua intacto.

A Saúva Moderna

No século passado, a saúva era uma ameaça física: um exército organizado, incansável e devastador, capaz de arrasar plantações em poucas noites. O combate virou causa nacional, virou campanha de conscientização, virou peça publicitária. Mas hoje, ela atua em outro território – e com outras armas.

No Brasil do século XXI, a saúva é um processo em mutação constante. Deixou de ser praga da lavoura para se tornar praga do sistema. Agora, infiltra-se nos códigos, nos decretos, nas regulamentações obscuras e nas estruturas que deveriam favorecer o crescimento, mas frequentemente o inibem.

Ela não tem mais patas nem mandíbulas visíveis. Tem carimbos, portarias, tributos em cascata e zonas de insegurança jurídica. E ataca com precisão os mesmos alvos de sempre: as boas ideias, os projetos promissores, a iniciativa de quem deseja construir algo relevante.

A Metáfora que Ainda se Sustenta

O que torna a metáfora da saúva tão potente é o fato de ela ser uma ideia em movimento. E como toda ideia viva, ela se adapta. Não é uma entidade, mas um conjunto de forças que atuam silenciosamente contra o progresso.

Hoje, podemos chamar de saúva:

  • A complexidade tributária que desestimula o pequeno e sufoca o médio;
  • A incerteza do que se passa na cabeça dos parlamentares, pouco importando se é má fé ou incompetência – ambas condenáveis;
  • A legislação instável que impede o planejamento estratégico de médio e longo prazos;
  • A burocracia que transforma a inovação em um percurso de obstáculos; e
  • As exigências desproporcionais que penalizam quem deseja agir com ética e eficiência.

Ela está presente toda vez que alguém desiste de abrir uma empresa. Toda vez que um investidor pensa duas vezes antes de apostar no país. Toda vez que o esforço parece maior que a recompensa.

No Marketing, Ela Também Atua

No universo do marketing e da competitividade, a saúva contemporânea se manifesta como a força que desorganiza o mercado, impede a fluidez das relações e onera a construção de valor real. Ela surge travestida de burocracias regulatórias, de obrigações fiscais que mudam de uma hora para outra, ou de legislações locais conflitantes que dificultam escalar iniciativas.

Empreendedores éticos, que desejam competir com profissionalismo e consistência, muitas vezes enfrentam uma espécie de solo infértil – um ambiente onde os recursos precisam ser dedicados não à criação ou ao relacionamento com o consumidor, mas à sobrevivência administrativa.

É quando percebemos que a saúva se sofisticou – e agora rói por dentro.

O Que Fazer Diante Dela?

Não há solução mágica. Mas há caminhos sensatos. O primeiro passo é reconhecer a existência da praga, mesmo que ela não use mais antenas nem mandíbulas. É entender que a competitividade de um país não se constrói apenas com campanhas motivacionais ou incentivos pontuais, mas com ambientes desobstruídos, regras claras, e um pacto honesto entre o público e o privado.

É preciso cultivar um ecossistema que favoreça quem quer produzir, inovar, servir, construir. Onde a regulação proteja, mas não engesse. Onde a cobrança seja justa, e não punitiva. Onde empreender não seja uma prova de resistência, mas um exercício de contribuição consciente.

Auguste de Saint-Hilaire nos alertou com a simplicidade genial de uma frase que nunca envelhece. E talvez ele não imaginasse que, tantos anos depois, ainda estaríamos discutindo a saúva. Mas ele certamente entenderia que as pragas mais perigosas são aquelas que aprendem a se disfarçar.

Hoje, a saúva não rói folhas. Rói confiança. Rói estabilidade. Rói entusiasmo. E, sobretudo, rói o futuro – um papel por vez.

E você, já identificou alguma “saúva invisível” atuando no seu dia a dia profissional?

Compartilhe sua percepção nos comentários – este é um convite à troca de experiências, porque talvez, juntos, possamos mapear os caminhos para um terreno mais fértil, onde as boas ideias possam finalmente florescer sem serem roídas antes do tempo.

Reinaldo Martinazzo

Quantas empresas que você conhece resistiriam a 500 anos de sucessões sem perder o rumo? A maioria mal sobrevive à troca de uma geração. A Beretta, fundada em 1526, atravessou 15 gerações e segue crescendo — porque entendeu algo que muitos ainda ignoram: herança não é direito, é responsabilidade. E o mérito, quando bem cultivado, é o verdadeiro testamento corporativo.
Há líderes que sufocam pela presença excessiva — e outros que ferem pela ausência disfarçada de liberdade. No meio desse paradoxo silencioso nasce o ghosting organizacional: o fenômeno de quem está fisicamente presente, mas emocionalmente ausente. Proponho uma reflexão sobre o que acontece quando o silêncio do líder faz mais barulho que suas palavras.
Num tempo em que algoritmos aprendem mais rápido que pessoas, a verdadeira vantagem humana não está na velocidade, mas na percepção. A Inteligência Situacional é o contraponto à Inteligência Artificial: enquanto as máquinas processam dados, nós processamos sentidos. E é nessa sutileza — entre o cálculo e o discernimento — que se revela o que nenhuma tecnologia consegue reproduzir: a sabedoria de compreender o contexto antes de agir.
Em tempos de excesso de informação e escassez de sensibilidade, a verdadeira inteligência não está apenas em pensar bem, mas em perceber melhor. A inteligência situacional é a capacidade de ler o ambiente, captar sutilezas e agir com lucidez diante do que se apresenta. É o ponto em que razão e emoção se encontram — e onde a mentoria revela seu maior poder: preparar mentes e corações para compreender o contexto antes de transformá-lo.