Desde o início da minha vida profissional, esta frase me acompanha: “A pressa passa, mas a ‘M’ fica.”
Não é do meu feitio usar termos chulos, mas a força de expressão que ela carrega é singular e resume de forma crua e direta o risco de agir sem maturidade e critério.
No mundo da comunicação de marketing – e, por extensão, em muitos outros – a rapidez é frequentemente confundida com pressa. Essa confusão, quase sempre vendida como virtude, é o que pretendo destacar e explorar neste texto.
O mito da urgência como virtude
Muitas empresas confundem rapidez com pressa.
- Pressa é agir sem preparo, sem dados e sem alinhamento. É responder ao problema com a primeira ideia que surge, na esperança de que dê certo.
- Agilidade, por outro lado, é a capacidade de reagir rápido com método, apoiada em informação, clareza de objetivos e coordenação.
A cultura do “tudo para ontem” é celebrada como prova de eficiência. Mas, na prática, ela desgasta equipes, alimenta decisões mal informadas e multiplica retrabalhos. Não raro, o “atalho” se torna um caminho mais longo e doloroso.
A herança da pressa
A “M” que fica pode assumir muitas formas:
- Processos mal estruturados;
- Comunicação ineficiente e sem propósito definido;
- Clientes frustrados que nunca voltam;
- Marcas arranhadas que levam anos para recuperar credibilidade.
Essa herança é silenciosa, mas duradoura. Ela se infiltra nas rotinas, mina a confiança e se torna parte da cultura organizacional – aquela mesma cultura que depois todos reclamam, mas poucos admitem ter ajudado a construir.
Quando acelerar e quando parar
Nem toda urgência é inimiga. Há momentos em que a velocidade é estratégica – quando há preparo, informação e alinhamento.
O problema está em agir no calor do momento “faça isso agora”, sem análise e sem medir riscos.
Antes de apertar o acelerador, vale fazer um checklist mental rápido:
- Tenho dados suficientes para decidir?
- Minha equipe entende e concorda com o caminho?
- Já calculei o custo se der errado?
- Se necessário, sei como corrigir o rumo?
Se as respostas forem negativas, a pressa não é virtude – é imprudência.
Agilidade é chegar rápido e bem.
Pressa é chegar rápido e mal.
A primeira constrói reputação. A segunda deixa cicatrizes.
No final das contas, fica a dica: tenha sempre em mente que “A pressa passa, mas a ‘M’ fica”.