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Reinaldo Martinazzo

“A Pressa Passa, Mas a ‘M’ Fica”: O Custo Oculto do Imediatismo nas Organizações.

Desde o início da minha vida profissional, esta frase me acompanha: “A pressa passa, mas a ‘M’ fica.”
Não é do meu feitio usar termos chulos, mas a força de expressão que ela carrega é singular e resume de forma crua e direta o risco de agir sem maturidade e critério.

No mundo da comunicação de marketing – e, por extensão, em muitos outros – a rapidez é frequentemente confundida com pressa. Essa confusão, quase sempre vendida como virtude, é o que pretendo destacar e explorar neste texto.

O mito da urgência como virtude

Muitas empresas confundem rapidez com pressa.

  • Pressa é agir sem preparo, sem dados e sem alinhamento. É responder ao problema com a primeira ideia que surge, na esperança de que dê certo.
  • Agilidade, por outro lado, é a capacidade de reagir rápido com método, apoiada em informação, clareza de objetivos e coordenação.

A cultura do “tudo para ontem” é celebrada como prova de eficiência. Mas, na prática, ela desgasta equipes, alimenta decisões mal informadas e multiplica retrabalhos. Não raro, o “atalho” se torna um caminho mais longo e doloroso.

A herança da pressa

A “M” que fica pode assumir muitas formas:

  • Processos mal estruturados;
  • Comunicação ineficiente e sem propósito definido;
  • Clientes frustrados que nunca voltam;
  • Marcas arranhadas que levam anos para recuperar credibilidade.

Essa herança é silenciosa, mas duradoura. Ela se infiltra nas rotinas, mina a confiança e se torna parte da cultura organizacional – aquela mesma cultura que depois todos reclamam, mas poucos admitem ter ajudado a construir.

Quando acelerar e quando parar

Nem toda urgência é inimiga. Há momentos em que a velocidade é estratégica – quando há preparo, informação e alinhamento.
O problema está em agir no calor do momento “faça isso agora”, sem análise e sem medir riscos.

Antes de apertar o acelerador, vale fazer um checklist mental rápido:

  1. Tenho dados suficientes para decidir?
  2. Minha equipe entende e concorda com o caminho?
  3. Já calculei o custo se der errado?
  4. Se necessário, sei como corrigir o rumo?

Se as respostas forem negativas, a pressa não é virtude – é imprudência.

Agilidade é chegar rápido e bem.
Pressa é chegar rápido e mal.
A primeira constrói reputação. A segunda deixa cicatrizes.

No final das contas, fica a dica: tenha sempre em mente que A pressa passa, mas a ‘M’ fica”.

A estética não é frescura — é estratégia. Quando líderes aprovam o “bonitinho” em lugar do alinhado, quando briefings são pobres e a criação se rende ao imediatismo das redes sociais, a comunicação começa a ruir. Esse desgaste é lento, quase invisível, mas compromete o posicionamento e joga a marca no que chamo de inferno no branding. Sua comunicação está protegendo a sua marca ou acelerando a sua corrosão?
Efeito Rosenhan da Liderança: assim como no experimento que mostrou como rótulos distorcem a realidade na psiquiatria, muitos líderes também caem na armadilha de enxergar seus colaboradores apenas pelo “carimbo” que lhes deram. Quando isso acontece, não se vê talento, potencial ou evolução — apenas o reflexo de um preconceito. Liderar não é rotular. É libertar.
A pressa disfarçada de agilidade é uma velha armadilha corporativa. Ela promete resultados rápidos, mas entrega retrabalho, desgaste e cicatrizes que custam caro para apagar. Você está correndo preparado ou apenas correndo para tropeçar?
Empresas digitais, clientes frios, colaboradores desmotivados. O que falta? Gente. A Gestão 5.0 só fará sentido quando colocar pessoas no centro — com liderança capaz de transformar o conflito geracional em potência. Caso contrário, quem vai ditar o futuro das organizações não são líderes, mas algoritmos.