“Tanto o mais fino cristal quanto o mais puro ouro são purificados no fogo.”
Essa frase, de beleza poética e força simbólica, revela uma grande verdade sobre a natureza humana e, especialmente, sobre o papel do gestor nos tempos atuais.
O fogo é muitas vezes associado à destruição. Mas, em diversas culturas e saberes, ele também representa transformação, depuração e renascimento. O cristal mais belo e o ouro mais valioso só atingem sua plenitude após serem submetidos ao calor intenso. Com os profissionais que lideram e tomam decisões todos os dias não é diferente.
A adversidade, por mais dura que pareça, não é apenas uma provação – pode ser também uma lapidação.
Resiliência não é modismo – é maturidade
Muito se fala em resiliência, mas pouco se compreende sua profundidade.
Ser resiliente não é apenas “aguentar o tranco”, como muitos imaginam. Não é resistir estoicamente até que a tempestade passe. Resiliência verdadeira é a capacidade de se adaptar, aprender, reconfigurar-se e emergir mais forte, mesmo após impactos severos.
O profissional resiliente não nega o desconforto; ele o observa, o compreende e faz dele matéria-prima para crescer. É nesse processo que o fogo, antes ameaçador, transforma-se em aliado.
O gestor à prova: sob pressão se revela a essência
Toda liderança será, mais cedo ou mais tarde, testada. Crises financeiras, cortes de equipe, decisões impopulares, falhas estratégicas, rupturas culturais. O “calor” das adversidades é inevitável.
Alguns derretem, outros se tornam duros demais — inflexíveis. Poucos, no entanto, encontram o ponto ideal: aquele que permite moldar-se sem perder a identidade, adaptar-se sem abrir mão dos valores, decidir com firmeza sem perder a empatia.
É nesse ponto de equilíbrio — que só o fogo revela — que surgem os verdadeiros líderes.
Fogo que forma, fogo que deforma
Nem todo fogo purifica. Há pressões que destroem. Há ambientes tóxicos que queimam em silêncio a confiança, a autoestima, a criatividade e a motivação dos profissionais.
Por isso, resiliência não é sinônimo de tolerância ao abuso.
O gestor maduro aprende a discernir entre o fogo que transforma e aquele que apenas consome. E mais do que isso: cria condições para que sua equipe também possa crescer com os desafios – e não sucumbir a eles.
Cristal e ouro: cada um reage de forma diferente
O cristal, ainda que belíssimo, pode trincar com uma mudança brusca de temperatura. Já o ouro, mesmo em estado bruto, suporta o calor extremo e pode ser moldado com precisão. Essa metáfora nos convida a olhar para as diferenças individuais.
Na prática, isso significa que líderes conscientes não esperam que todos reajam da mesma forma. Sabem que cada profissional tem seu tempo, sua história, seu modo de encarar o calor da pressão. E, mais do que cobrar resiliência dos outros, buscam oferecer suporte, exemplo e escuta ativa.
O valor de ter sido testado
Nenhum diamante brilha dentro da rocha. Nenhum metal precioso é extraído sem esforço. Nenhum líder verdadeiro é forjado em zona de conforto.
Os profissionais que mais inspiram são justamente aqueles que foram testados e não se deixaram destruir. Que aprenderam com suas quedas. Que se reinventaram diante das crises. Que assumiram a dor sem perder a dignidade — e que seguiram em frente com mais profundidade, sabedoria e compaixão.
O fogo não nos transforma para que sejamos invencíveis. Ele nos transforma para que sejamos verdadeiros.
E isso, no mundo da gestão, é ouro puro.
Para concluir, fica aí a pergunta: você conhece alguém que foi forjado como líder em banho-maria?
Reinaldo Martinazzo