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Reinaldo Martinazzo

Um Risco Silencioso: Por que o Cliente Deve Ter um Único Interlocutor.

No universo dos Serviços Profissionais, onde a confiança é construída mais pela experiência do que pelo produto final, um detalhe aparentemente simples pode comprometer toda uma relação: a multiplicidade de interlocutores no relacionamento com o cliente.

Pode parecer inofensivo que um assistente, um colega ou um novo membro da equipe assuma a comunicação com o cliente em andamento. No entanto, essa troca — especialmente quando mal conduzida — é frequentemente a origem de ruídos na comunicação, recuos em negociações avançadas e, em muitos casos, da quebra da confiança conquistada com esforço.

A comunicação como tangibilização

Diferentemente da comercialização de produtos físicos, em que a percepção de valor pode estar no design, na embalagem ou na entrega imediata, nos serviços, o valor é construído ao longo da jornada relacional. É nesse contexto que o diálogo entre profissional e cliente passa a tangibilizar a qualidade do serviço prestado.

Cada contato — presencial, telefônico ou digital — é uma oportunidade de reforçar o posicionamento do profissional, esclarecer dúvidas, alinhar expectativas e construir autoridade. Quando a condução desse relacionamento é transferida a outro interlocutor, por mais bem-intencionado que seja, perde-se a memória emocional e racional da negociação. Isso pode gerar desconforto, sensação de retrocesso e insegurança para o cliente.

O efeito da ruptura

Do ponto de vista técnico, a mudança de interlocutor cria uma descontinuidade no que chamamos de linha narrativa do serviço. O cliente, que já havia feito perguntas, ponderações e avançado em entendimentos, precisa reiniciar esse ciclo, reexplicando contextos ou escutando versões diferentes sobre o que foi acordado.

Além disso, essa prática pode provocar cognições dissonantes, conceito da psicologia que explica o desconforto gerado quando recebemos informações contraditórias sobre o mesmo assunto. No mundo dos serviços, isso se traduz em perda de credibilidade, recuo na decisão de compra ou até mesmo desistência.

O valor da continuidade

Garantir que o cliente tenha um único ponto focal durante toda a jornada — do primeiro contato ao pós-venda — é uma prática que reforça o profissionalismo, a confiabilidade e a percepção de excelência.

Isso não significa que a equipe de apoio deva ser anulada. Pelo contrário, ela é fundamental no suporte operacional. O que se recomenda é que as interlocuções estratégicas (aquelas que envolvem tomada de decisão, esclarecimentos técnicos ou definições contratuais) permaneçam sob responsabilidade direta do profissional titular. Esse cuidado reforça a autoridade técnica, evita ruídos e fortalece o vínculo emocional com o cliente.

Profissionais liberais que desejam se destacar no mercado devem compreender que, em serviços, a relação é o próprio produto. Evitar múltiplos interlocutores e manter a linearidade da comunicação é um investimento em reputação, eficiência e fidelização.

Como está o seu processo de atendimento hoje? Seu cliente se sente bem orientado ou já passou por trocas que geraram dúvidas ou frustração?

Em um mundo onde o marketing dos serviços se constrói com base na experiência, a clareza na comunicação é um diferencial competitivo — e não um detalhe operacional.

Quantas empresas que você conhece resistiriam a 500 anos de sucessões sem perder o rumo? A maioria mal sobrevive à troca de uma geração. A Beretta, fundada em 1526, atravessou 15 gerações e segue crescendo — porque entendeu algo que muitos ainda ignoram: herança não é direito, é responsabilidade. E o mérito, quando bem cultivado, é o verdadeiro testamento corporativo.
Há líderes que sufocam pela presença excessiva — e outros que ferem pela ausência disfarçada de liberdade. No meio desse paradoxo silencioso nasce o ghosting organizacional: o fenômeno de quem está fisicamente presente, mas emocionalmente ausente. Proponho uma reflexão sobre o que acontece quando o silêncio do líder faz mais barulho que suas palavras.
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Em tempos de excesso de informação e escassez de sensibilidade, a verdadeira inteligência não está apenas em pensar bem, mas em perceber melhor. A inteligência situacional é a capacidade de ler o ambiente, captar sutilezas e agir com lucidez diante do que se apresenta. É o ponto em que razão e emoção se encontram — e onde a mentoria revela seu maior poder: preparar mentes e corações para compreender o contexto antes de transformá-lo.